a mel
Conheci a Mel na UPPA. Não tivemos uma empatia por aí além e comecei a lidar com ela a pedido de um voluntário que a conhece bem. A história da Mel é pública e está relatada na página de facebook da associação. Não é uma história bonita. Prefiro não falar nisso: fiz perguntas para saber qual a melhor maneira para interagir com ela. O truque era simples: não interagir.
E isto para mim era um problema: até então, na minha cabeça, era muito claro que todos os cães gostariam de abraços, beijos e muitas festas, com muito contacto físico, agarrar, amarfanhar e essas coisas que gostamos de fazer aos nossos patudos.
Aprendi que o equivalente a “mega amarfanhanço” era só partilhar um passeio: eu numa ponta da trela, a Mel na outra ponta. Tranquilamente, a seu tempo, a Mel começou a olhar para trás, à procura da pessoa que a levava à rua: eu. E depois começou a caminhar no meu sentido, a andar ao meu lado. A pedir festas no lombo – e biscoitos, claro. Semana após semana, fomos ganhando confiança uma na outra. Um ano e meio depois somos as melhores amigas. A Mel continua a não apreciar os beijinhos ou os abraços que apertam. Mas isso não tem importância nenhuma, quando o elo se fortalece com brincadeiras, dentro da box, dedicando algum tempo a estarmos juntas. Sem grandes conversas, sem exigir nada uma da outra.
Continuamos a recuperar a fé da Mel na humanidade. Fico feliz por sentir que faço parte deste processo. E ainda tenho esperança que a Mel me presenteie com um beijinho, daqueles que fazem “chlep”!.
O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.